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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Delcídio e a derrocada moral do PT

"Na história recente da nossa pátria, houve um momento em que a maioria de nós, brasileiros, acreditou no mote segundo o qual uma esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a Ação Penal 470 e descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela esperança. Agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo. O crime não vencerá a Justiça. Aviso aos navegantes dessas águas turvas de corrupção e das iniquidades: criminosos não passarão a navalha da desfaçatez e da confusão entre imunidade, impunidade e corrupção. Não passarão sobre os juízes e as juízas do Brasil. Não passarão sobre novas esperanças do povo brasileiro, porque a decepção não pode estancar a vontade de acertar no espaço público. Não passarão sobre a Constituição do Brasil”
 No trecho acima reproduzido do voto que proferiu sobre o caso da prisão do deputado Delcídio Amaral (PT/MS), a ministra Carmem Lúcia coloca alguns pingos fundamentais nos is.


Primeiro, ela alude à enorme diferença entre o que o PT prometeu que faria, no poder, e o que realmente fez, que já era insatisfatório e se encontra cada vez mais diminuído por uma das piores crises econômicas da história do país – crise esta que deriva diretamente das opções econômicas e morais go governo petista. Na economia, representadas por uma política clientelista e descriteriosa de concessões de vultosos empréstimos a corporações próximas do poder e de isenções fiscais como forma de estimular o consumismo individual (em detrimento do incremento dos serviços para a coletividade); no aspecto moral, pela tolerância ou envolvimento direto com o maior caso de corrupção da história brasileira, o Petrolão.


Segundo, a ministra explicita o quanto um discurso de moralismo na política – uma das características distintivas daquele PT aguerrido pré-2002 - foi, seguida e repetidamente, não apenas abandonado, mas desmentido por escândalos sucessivos de corrupção envolvendo o partido e vários de seus membros – por duas vezes de maneira sistêmica, tal como reconhecido pela Justiça (por um STF cuja ampla maioria dos ministros fora nomeada por presidentes petistas, convém registrar).


O PT vive uma derrocada moral. Primeiro, o “Mensalão”; depois, o escândalo da Petrobras. Anteontem, numa página incrivelmente vergonhosa de sua história, o apoio a Eduardo Cunha, uma das mais nocivas figuras a ocupar uma posição de protagonismo na política institucional brasileira, em larga medida graças ao próprio PT, que, em aliança amoral e arrivista com a matilha do PMDB fluminense, o apoiou quando era um entre tantos malandros em busca de um mandato no Rio, e agora evita sua queda, receoso de que ela venha a significar o impeachment de Dilma.


Agora, ante um senador e líder de governo preso por ordem judicial, o petismo dá vazão a uma reação duplamente covarde: ora, num espetáculo de corporativismo e flacidez moral, tentando anular sua prisão no Senado; ora tentando ligá-lo ao PSDB e a Serra, embora ele tenha sido eleito pelo partido de Lula, do qual era lider no Senado, ao qual está filiado desde 2002 e pelo qual concorreu a senador e a governador do Mato Grosso do Sul.


Tanta conivência com a corrupção e tamanha e repetida traição ao que fora aos eleitores prometido já é de conhecimento do povo, a quem nas últimas eleições a candidata petista jurou defender e, em um caso explícito de estelionato eleitoral, traiu com um ajuste fiscal que ora os desemprega e pauperiza.


E a reação certamente virá, a volta do chicote no lombo de quem mandou dar, e há de se manifestar em breve, talvez já no próximo outubro. Então não haverá discurso de "golpismo" capaz de enganar os traídos.


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