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domingo, 22 de agosto de 2010

Música: ótimos lançamentos da safra 2010

Quatro álbuns recém-lançados mostram que a música brasileira vai bem, obrigado.

Nina Becker, vocalista da cultuada Orquestra Imperial, lança dois álbuns ao mesmo tempo, ambos primando por desenhos melodiosos extremamente cuidados: um se chama Azul, é tem um clima "frio", noturno, intimista sem ser melancólico. Destacam-se a regravação soft de "Samba Jambo", de Jorge Mautner e Nelson Jacobina e a deliciosa faixa de abertura, composta pela própria Nina, "Ela adora" (ouça na página dela no myspace).

O outro disco, intitulado "Vermelho" é um pouco mais quente, mas não abrasivo: um sol de inverno colorindo uma paisagem melódica de fim de tarde. Há, não apenas nessa ênfase na melodia, mas no controle da emissão, algo da Gal Costa de "Cantar" (1974, na minha opinião seu melhor disco) - impressão que a inclusão de "Lágrimas negras" (Mautner/Jacobina) parece corroborar. Essa leveza solar dá o tom do álbum, que é uma sucessão de canções suaves e envolventes, que flertam com o pop sem jamais se prostituirem.

Os arranjos - e a mixagem - merecem atenção especial, às vezes com um insuspeito protagonismo da bateria, ou um uso criativo do xilofone. Tirando a chatinha "Tropical poliéster", os dois dicos são uma amostra cabal que não serestringe ao superestimado cenário musical pernambucano as mais promissoras faces da música brasileira.



Música de gente grande
Confesso que eu tenderia a não prestar a minima atenção ao Pato Fu, mas a originalidade da proposta do último disco da banda, "Música de brinquedo", comentado no blog de Idelber Avelar, despertou minha curiosidade - e surpreendeu!

Utilizando-se de instrumentos musicais infantis - incluindo uma mini-bateria, aqueles "saxofones" coloridos e bugigangas várias -, do uso econômico e pontual dos backing vocals de uma garota e de um menino de seis anos, e de uma Fernanda Takai que - tendo achado o tom certo para sua pesona cool - está cantando cada vez melhor, o resultado final é do tipo que não dá vontade de parar de ouvir.



A escolha do repertório é algo a parte: minha favorita - que você pode ouvir acima - é a versãode "Live and let die" (que Paul e Linda McCartney compuseram para um filme de Bond, James Bond), com um hilário backing vocal gritado do garoto. Mas tem muito mais: "Rock and roll lullaby", "Twiggy, twiggy", "My girl" parecem canções novinhas em folha. Já a versão de "Ska" dos Paralamas é coisa de gente grande, com Fernanda brilhando, com uma dicção que explicita trechos da letra perdidos na interpretação original de Herbert Vianna, ao mesmo tempo em que valoriza a melodia.

O álbum vem se somar a Adriana Partimpim e ao disco de Arnaldo Antunes com Edgard Escandurra e Taciana barros como exemplo do que de melhor e mais criativo inspiração no universo infantil pode trazer à música.



O eclético Zeca
Por fim, há Zeca Baleiro: "Concerto" mostra que o formato acústico não diminui ou modula a versatilidade do artista maranhense.

A abertura, magistral, valoriza a bela combinação de melodia e letra de "Barco" (Chico César):

"Choro contigo, barco pela praia que deixas/
pelo sol que se deita, longe das pedras do cais/

(,,,) Choro saber que os açudes não são o mar/
Que não se pode guardar em alguidares de areia/
Choro o destino da sereira e o desatino do astrolábio/
Choro saber que o homem sábio pode morrer se não souber nadar/

Choro contigo e parto, nas ondas vagas e incertas/
As nossas velas abertas são ferramentas do caos/
Chore comigo, barco, a sina de todas as naus").

Zeca canta em inglês - "Best ou you", dos Foo Fighters -, espanhol - a paródia "Milonga del mejor", dele e de Vanessa Bumagny - e, vá lá, francês - "Tem francesa no morro" (do compositor dos anos 30 Assis valente); reverencia Cartola ("Autonomia") e Walter Franco ("Respore fundo"), além de investir, é claro, na alquimia brega-chique ("Chuva", de Gílson e Joran, que você pode ouvir abaixo).



Há uma ou outra idiosincrassia - notadamente, "Eu não matei Joana D'Arc", do Camisa de Vênus - compensados por momentos plenos de humor, como em "Armário" (sobre o medo de sair deste que acomete um rapaz cujo irmão foi skinhead), na genial "Bangalô", e, combinado com uma certa melancolia - como só Zeca sabe fazer -, em "Mais um dia cinza em São Paulo".

Ao final, fica a vontade de pedir bis.

Um comentário:

Lívia Alcântara disse...

eu q adoro o partipim estou loka p ouvir o Brincadeira de Gente Grande. E claro, meu querido Zeca, já na lista! OtÉmo post Maurício